6/03/2013

Salmonella

SALMONELLA Salmonella é um gênero de importância muito grande, envolvido em processos tóxicos e infecciosos. Existe 2.200 tipos. Tem predileção por hospedeiros, porém algumas espécies não apresentam predileção. Bastante virulenta. Altamente patogênica. Tem enorme facilidade de se relacionar com o organismo do animal. Afeta o sistema digestório. O gênero Salmonella recebeu esse nome em homenagem ao bacteriologista veterinário D.E. Salmon. Salmon & Smith isolaram, em 1884, microrganismos posteriormente denominados Salmonella cholerae suis. Gartner descobriu em 1888, a S. enteridis; Loefler em 1889, a S. typhi-murium.Todos são membros da família Enterobacteriaceae. As salmonelas distribuem-se por todo o mundo. A multiplicação do agente fora do organismo é facilitada pelas altas temperaturas e pelos materiais protéicos (por exemplo, águas residuais). Portanto, os pontos chaves dos contágios por salmonelas são as regiões tropicais e subtropicais, assim como os lugares com grande concentrações de animais e de pessoas. Levantamentos epidemiológicos realizados em vários países situam as salmonelas entre os agentes patogênicos mais freqüentemente encontrados em surtos de toxinfecção de origem alimentar, tanto em países desenvolvidos, como em desenvolvimento e os produtos de laticínios são ainda um dos mais importantes veículos de transmissão de Salmonella spp. No que diz respeito aos riscos a saúde temos que nos países em desenvolvimento, as diarréias agudas causadas por água ou alimentos contaminados, constituem a principal síndrome das febres tifóide, paratifóide e das salmoneloses, que têm sido responsáveis por elevada taxa de mortalidade e morbidade infantil. Em seres humanos, a febre tifóide é a forma clássica de salmonelose, e permanece ainda hoje como um grande problema de saúde mundial. A apresentação mais branda da salmonelose em seres humanos é a intoxicação alimentar resultante da ingestão de alimentos contaminados. Em animais, as infecções são freqüentemente conhecidas como paratifóides. Então a salmonelose é uma doença bacteriana que afeta todas as espécies animais, mas, com maior freqüência, bovinos, eqüinos e suínos. É uma zoonose, e animais infectados servem de reservatório para a infecção em humanos. As aves acometidas por salmonelas paratíficas podem desenvolver a doença clinicamente ou de forma assintomática, albergar esses agentes, tornando-se fonte em potencial de salmonelose para seres humanos. Devido à expansão nos últimos anos, do mercado de animais exóticos como "pets", centenas de tartarugas são comercializadas em grandes centros como a cidade de São Paulo. Não existe, entretanto, até o momento, controle de sanidade destes animais quanto ao seu potencial zoonótico. É importante salientar os prejuízos para a Saúde Pública, representados pela comercialização irresponsável destes répteis, colocando em risco a saúde de pessoas, principalmente as crianças, proprietários dos animais. Os répteis, em geral, são portadores assintomáticos de "Salmonella" spp, manifestando a doença somente em caso de queda de imunidade. O estresse produzido através do transporte, colocação em novo ambiente, mudança alimentar ou de manejo, ou simples exposição em um "Pet Shop", pode levar à ativação do processo infeccioso latente, com conseqüente eliminação de "Salmonella" pelas fezes, constituindo assim um risco a saúde humana. ETIOLOGIA O gênero Salmonella contém centenas de serovares (espécies). Salmonelose Salmonella typhimurium Considera-se principalmente: Cavalos: S. typhimurium, S. newport, S. heildelberg, S. anatum, S. copenhagen, S. senftenberg, S. agona, S. abortus equi Bovinos: S. dublin, S. typhimurium, S. anatum, S. newport, S. montevideo. Ovinos e caprinos: S. abortus ovis, S. montevideo, S. typhimurium, S. dublin, S. arizonae Suínos: S. cholerae suis, S. typhimurium, S. dublin, S. heidelberg Cães e gatos: S. typhimurium, S. panama, S. anatum. Aves domésticas: S. pullorum, S. gallinarum, S. typhimurium, S. agona, S. anatum Roedores de laboratório: S. enteridis, S. typhimurium Seres humanos: S. typhi, S. paratyphi-A, S. typhimurium, S. enteridis. EPIDEMIOLOGIA O contágio é produzido, fundamentalmente pela via oral, embora possam concorrer também as vias aerógena e conjuntival. Em determinadas espécies e tipos animais também são produzidas transmissões intra-uterinas ou transplacentária. Em criações de gado, o contágio verifica-se, freqüentemente, mediante animais infectados. As infecções numa criação podem ser mantidas durante anos. Vários fatores de estresse (ex. superpopulação, transporte), manejo (ex. más condições sanitárias), estado imunológico ou nutricional e outras doenças intercorrentes influenciam no desenvolvimento da salmonelose. A taxa de morbidade nos surtos de salmonelose geralmente é alta em suínos, ovinos e bezerros, algumas vezes alcançando 50% ou mais. Em todas as espécies a taxa de mortalidade pode chegar a 100% se o tratamento não for instituído. A contaminação dos ovos por salmonela se dá, inicialmente e na maioria das vezes, através da casca. Tempo e temperatura de armazenagem são fatores fundamentais para que as salmonelas passem da superfície da casca para as estruturas internas do ovo (Staldeman, 1986; Silva, 1995). A desinfecção e o resfriamento do ovo logo após a postura são procedimentos adotados em vários países como medidas para reduzir a contaminação e a multiplicação bacteriana (Hammack et al., 1993). Ovos podem também se contaminar via transovariana. Nesse caso, a contaminação está localizada na gema e os processos convencionais de desinfecção dos ovos não são eficientes. A clara, em geral, apresenta-se com baixa contaminação por salmonelas pois ela contém elementos naturais que dificultam o desenvolvimento bacteriano, como a presença de enzimas antibacterianas (lisozima) e a deficiência em ferro, elemento essencial para a multiplicação bacteriana, p.ex. Contudo, a manipulação da clara no preparo de determinados pratos pode romper esse equilíbrio e favorecer a multiplicação de salmonelas (maiores detalhes consultar artigo na íntegra - Salmonela em ovos comerciais: ocorrência, condições de armazenamento e desinfecção da casca). Os casos de toxinfecções alimentares causados por Salmonella aumentaram a partir da década de 80. Rodrigue et al. (1990) atribuíram esse aumento ao consumo de ovos e subprodutos contaminados por Salmonella Enteritidis. Todavia, a presença de Salmonella em carcaças de frangos não pode ser ignorada. PATOGENIA A patogenia está, geralmente, associada a moléstias entéricas. A infecção é adquirida pela ingestão de material contaminado com fezes infectadas de animais clinicamente enfermos ou de animais portadores. O estado do portador é particularmente importante na manutenção e transmissão da moléstia. As bactérias aderem aos enterócitos por meio de fímbrias ou pili, e colonizam o intestino delgado. Em seguida os microrganismos penetram nos enterócitos, onde ocorrerá nova multiplicação antes que as bactérias cruzem a lâmina própria e continuem a proliferar, tanto em liberdade como no interior dos macrófagos. Muitas infecções por Salmonella não progridem para outros locais; contudo, no caso de alguns dos sorovares mais patogênicos, especialmente em animais jovens, os microrganismos são transportados por macrófagos até os linfonodos mesentéricos. Nova multiplicação termina provocando a ocorrência de septicemia, nesse caso com a localização das bactérias em muitos órgãos e tecidos, como o baço, fígado, meninges, cérebro, e juntas. Assim, a infecção pode variar desde uma leve enterite até a enterite grave e freqüentemente fatal acompanhada de septicemia. A perda de liquido pela diarréia é importante para a evolução dos sinais clínicos e para o desfecho da infecção. Aparentemente o mecanismo envolve tanto uma enterotoxina causadora de um aumento da secreção por enterócitos (como no caso do cólera) como a exsorção resultante do processo inflamatório. O aborto pode ocorrer durante a forma entérica ou septicêmica aguda de salmonelose, especialmente em bovinos e, ocasionalmente, na ausência de moléstia óbvia na vaca; contudo, além disso, certas espécies de Salmonella causam aborto na ausência de uma enterite óbvia. Esse é o caso com S. abortus ovis em ovinos e S. abortus equi em cavalos. SINAIS CLÍNICOS, DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO A doença é mais satisfatoriamente descrita como três síndromes, classificadas arbitrariamente, de acordo com a gravidade, como septicemia, enterite aguda e enterite crônica. Septicemia: esta é a forma característica da doença em potros e bezerros recém-nascidos, como também em suínos jovens. Os animais acometidos apresentam depressão profunda, surdez, prostação, febre alta (40,5 a 42º C) e morte em 24 a 48 horas. Enterite aguda: mais comum em animais adultos de todas as espécies. Há febre alta (40 a 41º C) com diarréia aquosa grave, algumas vezes disenteria e, em alguns casos, tenesmo. A febre pode desaparecer subitamente com o estabelecimento da diarréia. As fezes tem um odor pútrido e contêm muco, sangue às vezes, resto de fibrina, e pedaços da mucosa intestinal. Há completa anorexia, mas em alguns casos a sede aumenta. A freqüência do pulso é rápida, as mucosas apresentam-se congestas e os movimentos respiratórios rápidos e superficiais. As fêmeas prenhes comumente abortam. Em todas as espécies, se desenvolvem desidratação e toxemia graves e o animal perde a condição muito rapidamente, permanece em decúbito e morre em dois a cinco dias. Enterite crônica: comum em suínos e ocorre ocasionalmente em bovinos e eqüinos adultos. Nos bezerros, há uma diarréia intermitente ou persistente, com eliminação ocasional de estrias de sangue, muco e restos de fibrina firmes, febre intermitente moderada (39º C) e perda de peso conduzindo a emaciação. O diagnóstico de salmonelose apresenta considerável dificuldade nos animais vivos, em grande parte por causa da variedade de síndromes clínicas que podem ocorrer e das variações da patologia clínica. A salmonelose pode ser suspeitada pelo quadro clínico, lesões macroscópicas e histopatologia. No entanto, as lesões não são específicas e o isolamento ou identificação do agente etiológico associado às lesões é necessário para a confirmação do diagnóstico. A suspeita de salmonelose é baseada, principalmente na presença de esplenomegalia, nos focos necróticos e granulomas que freqüentemente, são observados somente ao estudar os pulmões assim como as alterações inflamatórias da vesícula biliar. Também são significativas as petéquias no fígado e no córtex renal DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Deve ser incluído no diagnóstico diferencial a septicemia por Escherichia coli. A diferenciação entre as duas necessita de exames bacteriológicos, mas a salmonelose tende a ocorrer em bezerros acima de 2-3 semanas de vida, enquanto a colibacilose é mais freqüente na primeira semana. Deve ser realizado o diagnóstico diferencial com a yersiniose, que afeta principalmente búfalos mas pode ocorrer em bovinos, causando enterite aguda, fibrinosa ou hemorrágica. O exame bacteriológico é a única forma de diferenciar as duas enfermidades. Coccidiose intestinal pode, também, assemelhar-se clinicamente à salmonelose bovina. Casos de enterite crônica podem lembrar paratuberculose, intoxicação por molibdênio ou ostertagiose. As lesões de necrópsia, no entanto, distinguem perfeitamente essas doenças de salmonelose. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O melhor teste diagnóstico para os casos clínicos é a cultura de fezes, mas várias repetições podem ser necessárias. Devido ao efeito diluente da diarréia, os microrganismos podem não estar presentes nas fezes por até duas semanas após o início da diarréia. O cultivo de biópsia de reto aumenta as chances de isolamento. As amostras de fezes devem ser colocadas em solução tamponada de glicerina (meio de Teague e Clurman) e enviadas refrigeradas ao laboratório PREVENÇÃO E CONTROLE As salmoneloses são a expressão de condições higiênicas deficientes. Estas podem ser relacionadas com a estabulação e a alimentação ou também depender de uma destinação inadequada de excretas, assim como da presença de contaminadores, sobretudo moscas e ratos, mas também da introdução de animais jovens. Como medidas higiênicas orientadoras são válidas as seguintes: Compra de animais unicamente das criações livres de salmonelose, cumprindo a quarentena e com mudança de alimentação. Se possível, adquirir os animais quando estiverem mais velhos, para dar uma oportunidade para o desenvolvimento de imunidade específica e inespecífica. Se estes animais puderem provir de rebanhos vacinados, é muito melhor. Estabulação em separado das distintas espécies animais e divisão segundo grupos de idade. Seleção contínua de animais doentes ou suspeitos e também de emagrecidos. Estabulação isolada dos animais que tenham sobrevivido a salmonelose. Administração de alimentos livres de salmonelas. Eliminação constante de restos de alimentos fezes e urina. Limpeza e desinfecção no período de serviço e estábulo ocupado Combate efetivo aos contaminadores. O fornecimento de água deve ser feito em bebedouros sem possibilidade de contaminação fecal. Como medidas profiláticas específicas estão indicadas a imunização ativa e passiva que, apesar de não conferir nenhuma proteção absolutamente segura, reforçam as demais medidas adotadas. Há dois tipos de vacina: uma bacterina morta e uma vacina viva atenuada. Ambas podem ser usadas como vacinas pré-natais para fornecer imunidade passiva ao recém-nascido. No Brasil existem apenas vacinas inativadas genericamente denominadas “vacinas contra o paratifo”. Preconiza-se como medida profilática vacinar as vacas prenhes oito e duas semanas antes do parto. A vacinação é repetida no bezerro aos três e seis meses de idade. TRATAMENTO O tratamento de animais é controverso por duas razões básicas. A primeira é que o tratamento só é eficaz no início da doença e a segunda é que o uso de antibióticos aumenta o período no qual o animal elimina a bactéria, prolongando assim o estado portador. O tratamento ainda assim é recomendado para animais de alto valor ou quando o número de doentes possa induzir prejuízos elevados. O tratamento precoce com antibiótico de amplo espectro e sulfonamida é altamente eficiente na prevenção de mortes e no retorno dos animais às funções normais, o tratamento deve ser precoce, tendo em vista que a demora significa perda da integridade da mucosa intestinal a um ponto em que a recuperação não possa ocorrer. Para o tratamento específico usa-se o cloranfenicol, ou uma combinação de trimetoprim e sulfadiazina, furazolidona, sulfametilfenazol e neomicina. A ampicilina e a amoxicilina também são recomendadas. SITUAÇÃO ATUAL DA ENFERMIDADE NO BRASIL Surtos de salmonelose são descritos esporadicamente no Brasil, mas é possível que a enfermidade seja subdiagnosticada e/ou sub-relatada. No Mato Grosso têm sido diagnosticados casos das formas septicêmica e da forma entérica. Os sorotipos isolados foram S. typhimurium dos casos septicêmicos e S. dublin, S. newport, S. give, S. saint-paul e S. rubis law dos casos da forma entérica. No Rio Grande do Sul, dois surtos foram descritos recentemente, incluindo as formas entérica aguda e crônica, e o sorotipo isolado foi S. dublin. No Brasil, os surtos por Salmonella enteritidis no homem tem aumentado a partir de 1993 (Silva, 1995; Irino et al., 1996; Taunay et al., 1996; Lirio et al., 1998). Grande parte deles tem sido relacionada com o consumo de ovos ou pratos preparados com ovos (Spackman, 1989; Barrow, 1993; Noorhvizen & Frankena, 1994; Tauxe, 1997). No Brasil, Salmonella enteritidis foi detectada pela primeira vez em galinhas, em 1989, quando a cepa foi isolada de matrizes pesadas jovens que apresentavam sintomas clínicos e mortalidade por salmonelose (Ferreira et al., 1990).

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